Em um tempo em que as nanomáquinas são uma realidade e que o mundo gira em torno da tecnologia apresentando pequenas e grandes maravilhas digitais, quem caminha para um passo ainda maior são as construções que podem ganhar um conceito completamente revolucionário segundo a visão do arquiteto Frederico Carstens.
O ser humano já foi ao espaço, já pisou na lua, imitou Deus criando clones, é capaz de dominar a informação e o conhecimento, mas até hoje não mudou a maneira arcaica e extrativista de construir, diante de tantas evoluções, esse fato parece estar desconexo com a realidade global em que um falso conceito de “sustentabilidade” nos é apresentado.
Então se é possível construir veículos que quebrem a barreira do som, ou de reunir toda a informação da biblioteca de Londres em um cartão de 5 centímetros, porque ainda não foi possível pensar em uma construção tão inteligente que condiz com tais evoluções humanas?
O dia depois de amanhã
E se existisse uma construção que em vez de agredir a natureza entrasse em harmonia com ela em uma forma de simbiose perfeita e que essa casa se espelhasse nos modelos orgânicos vivos para se comportar de forma inteligente e natural? Caso isso possa parecer futurista demais, então quando esse conceito foi criado por Frederico Carstens e um grupo de pesquisa há vinte anos atrás, poderia ser considerado uma utopia, mas diante da evolução do ser humano possibilitada pelo pensamento coletivo, nos tempos atuais esse é um novo conceito que deve ser pensando.
A pioneira idéia de construir baseando-se em características de seres da natureza no ramo da construção é totalmente inédito, mas em outros ramos já foi provado como possível, o que torna a idéia visionaria de Frederico ainda mais palpável.
A síntese da realidade
Pesquisadores já criaram uma espécie de proteção corporal para serem usados em caso de combate, baseando-se no exoesqueleto de pequenos animais, através dessa observação foi possível construir um modelo que se assemelha ao natural e pode ser confeccionado graças a tecnologia vigente no mundo atual.
Mas exemplos podem ser encontrados mais próximos, como, por exemplo, as roupas de mergulho, feitas de um material que em tese seria semelhante ao tecido orgânico de alguns seres marinhos.
O que tudo isso quer dizer, na verdade é que já se torna possível dar uma conotação física ao conceito apresentado por Frederico Carstens, porém mais do que isso, o modelo proposto pelo arquiteto apresenta uma solução à maneira extrativista a qual se encontra a construção civil e mais traz o conceito de simbiose com a natureza.
O modelo obsoleto de construção e a falta idéia de sustentabilidade
Uma das maiores preocupações de Frederico Carstens se dá por conta do atual modelo de construção vigente, a forma agressiva com que a matéria-prima é retirada da natureza e no que ela e transformada depois: “Se retira o ferro, a pedra, a areia, o barro para o tijolo e outros materiais mais, depois se faz bolo com tudo isso conglomerado e se joga novamente esse conglomerado em meio à natureza, deixando-o assim como um corpo estranho em meio a harmonia vigente” diz o arquiteto.
Até mesmo as propostas mais “verdes” que se apresentam na verdade podem ser consideradas como modelos redundantes, pois até trazem o conceito de ser sustentável. Entretanto para isso fazem usos de recursos naturais, um exemplo bastante coerente são os sistemas de aquecimento a gás, sua aplicação se justifica pela economia de energia e recursos naturais, mas na verdade a matéria-prima (o gás) continua a ser retirado da natureza, ou seja, essa é uma falsa idéia.
Foi justamente pensando nessa corrente é que aquela idéia de vinte anos atrás foi ganhando mais robustez e juntamente com os avanços tecnológicos acabou por se tornar uma possibilidade viável.
Um modelo natural e vivo
A grande virtude do modelo proposto por Frederico é não utilizar-se da natureza de forma exploratória, mas sim de forma observatória, analisando as reações naturais e vivas do ambiente orgânico e transferindo para uma peça funcional.
Criar materiais orgânicos em laboratórios de forma artificial a fim de poupar o desgaste da natureza é um fator preponderante na idéia da “Casa Viva”, a harmonia com a natureza não parte apenas da forma de construção, mas sim dos materiais necessários para torná-la uma realidade.
Surgido de forma mais orgânica e não agressiva a construção já cumpre uma parte em seu tratado com a natureza, porém se comportando de forma auto-suficiente embasado em modelos orgânicos ela se encaixa perfeitamente em um ambiente onde já não mais pode ser considerada com um corpo estranho.
A inteligência inerente
Ao citar exemplos de componentes que pertenceriam a esse novo modelo se construção Frederico Carstens cita as plantas e sua propriedade de fotossíntese: “Poderíamos projetar um sistema que não apenas filtrasse o gás carbônico, mas sim o aproveitasse e devolvesse de forma limpa a natureza, como as plantas fazem, seria um processo cíclico e benéfico”, essa é apenas uma das idéias que cita o arquiteto. “As janelas poderiam se comportar como fazem os olhos, regular o controle de luminosidade de acordo com a emissão de luz externa, mas isso de forma natural e não artificial como presente em alguns modelos de hoje”.
As citações de Frederico fazem as idéias deixarem de ser um ponto imaginário e passam a ser passiveis de aplicação. “As formas de construção também podem ser modificadas para que copiem modelos naturais e se apliquem de forma suave no ambiente em que estão inseridas, com a capacidade de montagem atual, podemos chegar a qualquer forma possível” completa.
Sistemas orgânicos baseados no corpo de outros serem poderiam ser usados para climatização de um espaço, por exemplo. Ao detectar a temperatura externa o material poderia absorver ou liberar mais calor, como faz diversas espécies. Para todas as funcionalidades existe uma aplicação orgânica.
Frederico define parte da idéia da seguinte forma “O sistema de construção mais perfeito que existe é a floresta, por que nela tudo está em harmonia, e é este conceito que devemos buscar”.
O que pode-se em suma sintetizar é que o modelo construído pode ser capaz de tomar decisões como se fosse um ser pensante, analisando as variáveis e se comportando da maneira mais indicada diante da situação que se apresenta, assim como um cérebro faz.
O sem limites de possibilidades
Levando em conta todas as idéias e exemplos apresentados pelo arquiteto, a capacidade de aplicação e as maneiras de utilizar as formas orgânicas como base para construções vivas, se tornam imensas.
Formas naturais de purificar a água captada da chuva e distribuir pelos canais de uma construção, pode ser basicamente o mesmo comportamento de uma flor, a mudança de cores de um revestimento de acordo com a paisagem pode ser alcançada criando um sistema que funcione como a pele co camaleão que muda de tom dependendo da necessidade.
O mesmo pode se dizer das formas, e projetos, seguindo sempre uma linha não artificial a harmonia vigente seria completa, e o convivo ganharia outras proporções em uma forma incrível e nova de conviver.
A ideia de hoje para um futuro novo
O que Frederico Carstens apresenta é muito mais do que uma idéia de futuro, é um conceito novo de construção que visa abandonar a forma brusca e agressiva de como se constrói hoje.
Sua idéia não precisa ser uma unanimidade, mas pode ser um modelo que sirva de exemplo para futuros projetos que tenham a proposta de estar em simbiose com o mundo em que vivem e utilizar materiais que possam ser criados e não extraídos,pois o modelo atual caminha para um caos indescritível, além do limite aceitável.